Autor : Marcelo A. Franco
Email : marcelo@ccuec.unicamp.br
Editora : Boletim EAD - Unicamp / Centro de Computação / Equipe EAD
Data de Publicação : 1 de Junho de 2001
E-Learning é um dos conceitos mais citados hoje na área de treinamento com o uso das tecnologias da informação. Neste boletim estamos aproveitando alguns artigos da revista TechKowLogia de maio/junho de 2001, inteiramente dedicada a esse tema, para discutir o que é o E-Learning, procurando resumir os pontos positivos e as questões mais problemáticas desta forma de aprendizado, indicados pelos pesquisadores que contribuíram para a revista.
Vários artigos da revista procuram definir do que se trata o chamado E-Learning.
No editorial, Wadi D. Haddad aponta a nova economia, a nova realidade e os novos recursos, como os responsáveis pelo surgimento do E-Learning, mais popular no mundo corporativo das empresas, preocupadas com o treinamento dos funcionários trabalhando em uma economia baseada no conhecimento. Além disso, o E-Learning "tem aberto novos caminhos, originando novas idéias e gerando novos paradigmas no mundo acadêmico". Segundo Wadi D. Haddad, as ferramentas e métodos que têm sido desenvolvidos em E-Learning no local de trabalho são: ambientes colaborativos, material de aprendizado em multimídia, tecnologias de redes e sistemas de gerenciamento de aprendizado.
O artigo de Joane Capper apresenta dados sobre o crescimento do E-Learning e seu potencial para os países em desenvolvimento. A autora apresenta uma estimativa de dez milhões de cursos on-line e 700 companhias de E-Learning, apenas nos Estados Unidos. As empresas de E-Learnig são descritas em quatro áreas: provedores de conteúdo, provedores de plataformas, centros de aprendizado e empresas que tentam englobar todas as atividades acima. Joane Capper ainda apresenta estudos para mostrar que o E-Learning funciona bem e argumenta que um bom programa de aprendizado baseado em computador pode, em alguns aspectos, ser superior ao uso de salas de aula, como por exemplo o caso da interatividade. Para ela, as vantagens do E-Learning são: acesso a qualquer hora ao programa, acesso de qualquer lugar (os participantes não precisam se encontrar fisicamente), interação assíncrona (não requer resposta imediata), colaboração em grupo (facilitada por recursos técnicos), oportunidades para novas abordagens educacionais e o processo de integração é facilitado com o uso de computadores.
De acordo com Cher P. Lin, que escreveu um artigo intitulado "O que não é E-Learning", este é uma faca de dois gumes, pois pode até amplificar as desvantagens competitivas de uma corporação, quando mal aplicado. Ele enumera os principais mitos sobre o assunto:
1. E-Learning tem a ver com tecnologia. Esse engano também foi comum no passado, produzindo fantasias sobre o potencial educativo do cinema, do rádio, da televisão e do vídeo. Segundo o autor, estudos comparativos mostraram que nenhuma mídia é superior a outra. O sucesso tem mais a ver com o contexto em que ela é usada. Incisivo ele afirma: "E-Learning deve tratar de processos, não de produtos".
2. E-Learning tem a ver com informação. Nós já estamos sendo bombardeados com um quantidade exorbitante de informação. O que as corporações necessitam são pessoas capacitadas a sintetizar significado, a partir da enorme diversidade de conhecimento. Pois "informação não é conhecimento, conhecimento não é sabedoria e sabedoria não é visão de mundo".
3. E-Learning trata de aprendizado baseado na Web. Com essa orientação as pessoas tentam transferir o aprendizado tradicional para a nova mídia, sem alterar os princípios pedagógicos. "E-Learning então, deve ser sobre o aproveitamento da força e tratamento das fraquezas do aprendizado baseado na Web para criar um ambiente de aprendizado significativo".
4. E-Learning é baseado na interação entre computador e aprendiz. Na verdade, este tipo de atividade pode garantir controle sobre atividades e seqüências mas não necessariamente aprendizado. "O aprendizado de um indivíduo é o resultado das interações com a sua comunidade. Esta comunidade consiste de seus colegas, empregados, clientes, parceiros e investidores".
Alguns artigos analisam a questão da relação curso/benefício do E-Learning, como o de Stephen Ruth e Min Shi, que mostra uma relação positiva no uso de cursos por correspondência e por rádio, mediana para Internet/CD-ROM e desfavorável para a criação de uma Universidade Virtual, o que deveria ser levado em conta em países em desenvolvimento. Outra questão importante a considerar é a porcentagem de usuários de Internet com relação a população.
Nenhum artigo trata especificamente de questões pedagógicas do E-Learning. No entanto, estas aparecem tratadas de maneira pontual por toda a revista. Provavelmente o item mais considerado é a colaboração ligada a formação de grupos e comunidades de aprendizes. Lucio Teles e outros, estudando o papel do instrutor em ambientes colaborativos de E-Learning, cita um estudo sobre o uso da teoria socio-cultural de Vigostki na orientação do trabalho dos instrutores do ponto de vista pedagógico. No entanto, parece haver algo de inconsistente ou ainda obscuro, quando se misturam conceitos como aprendizado, colaboração, gerenciamento, tecnologia, conteúdo e mercado. Assim, o conceito de colaboração em uma comunidade permite uma aproximação da teoria sócio-cultural, os conceitos de conteúdo e aprendizado, apontam para uma matriz behaviorista skinneriana, mais próxima da tradição da educação Norte Americana, de onde se originou o conceito de E-Learning.
Segundo Wadi D. Waddad, a expansão do E-Learning não se dá sem problemas. Gregg Jackson escreveu um guia para os compradores de E-Learning. Segundo ele, as pessoas precisam ser cautelosas para comprar um treinamento na "selva" do E-Learning. Os passos para isso são: conhecer suas necessidades, procurar os provedores, avaliar os treinamentos e verificar a proteção do processo de compra e pagamento. No artigo estão listados alguns sites que podem auxiliar nessas atividades.
Neste texto evitamos misturar ou comparar os termos E-Learning e Educação a Distância. No meio acadêmico, especialmente nas Faculdades de Ciências Humanas, o conceito de Educação é bem distinto de treinamento para o trabalho, aperfeiçoamento profissional ou preparação para o mercado, como parece ser o foco do E-Learning. Para especialistas da área, o conceito de Educação está mais ligado com o desenvolvimento pessoal, com a formação de cidadãos esclarecidos e participantes da vida pública, mais de acordo com a tradição iluminista e européia, fonte inspiradora na criação de muitas Faculdades de Educação no Brasil. Os dois conceitos parecem estar relacionados a visões de mundo muito diferentes. Mas como estamos era da globalização digital, talvez o conceito de Educação cada vez se restrinja acadêmicos, enquanto o conceito de aprendizado se difunde na velocidade da rede e dos interesses da nova economia.
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